Não quero habituar-me a ti.

A noite não é suficiente. A espera é a parte fraca que sou obrigada a dar. O toque faz-se surpresa, quase um acidente. Não sei para onde vamos agora. Não quero ainda habituar-me a ti. Nas mãos apertadas, só cabem alegrias e memórias. O amor é para os heróis e nós somos apenas humanos. A beleza do mundo ser redondo está nas voltas que dá, tômbola de acasos em perpétua giratória. Os Gregos já o sabiam, nenhum marinheiro haveria de cair na ponta do mundo, mas somos nós agora quem roda com ele. A beleza do mundo está nas pessoas que nele habitam, metades periclitantes em eterna demanda, e a felicidade, em saber que a solidão é escolha porque Noé juntou todos os pares na hora de partir. A noite não é suficiente para a minha ficção. Tornamo-nos iguais, eu não pergunto e tu não contas. Duas suposições chegam para uma conclusão mas duas conclusões não fazem um facto. Lágrimas novas nascem de lágrimas velhas. O coração é enorme porque aguenta tudo. É um músculo porque é resiliente, minga e cresce no peito enquanto dormes. É quente, porque se agita e incendeia quando cantas, os jeitos na voz como quem ajeita o cabelo, veia cava, veia supra, assim a anatomia do meu desejo. É teu, porque só sei assim.

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