O que a gente ainda é capaz de desejar-se que incrível, temos a certeza que não e coisinhas a dançarem por dentro.

São palavras suicídas que se atravessam repentinamente no caminho, fantasmas e demónios a galgar paredes. Tome o cinto, mãezinha. São palavras em fuga como quem procura asilo e são fronteiras esbatidas em terra de ninguém. Uma multidão de vozes a gritar dentro da cabeça sem tirarem senha e esperarem vez, ecos que se repetem em ladaínha perturbando o sono dos justos. Não se sabe quem diz o quê. Se é esta a minha voz ou a deles, do preto ou do polícia. Estás feliz agora? São um murmúrio dentro dum murmúrio dentro dum murmúrio, bichanas da igreja a desacreditarem a paz. Tome o cinto, mãezinha. Não faças isso. Não precisam de silêncio porque são intermináveis mas calemo-nos todos agora para tentar entender. Tremor da terra. Não faças isso. Estava a ver que não. Não faças isso. Estás feliz agora? Tome o cinto, mãezinha. Muitas. Todas, porque o meu nome é legião.

Ler aquilo e, ao mesmo tempo, pensar no seu sou muito fã desta escrita, numa sucessão de palavras inacreditáveis, cada uma mais duvidosa do que a outra ao ponto de vir o riso, mas sobretudo aquela. Desta. Desta como diferente, qual coisa própria que me pudesse pertencer, determinante demonstrativo de quase uma certeza definida como quando usavamos o artigo definido para falar do nosso beijo num tempo em que ainda havia o nosso beijo. Desta mas a determinar o quê, demonstrando o quê? Desta, quando não consigo falar-lhe sequer da merda do tempo, quanto mais escrever.

E a verdade é como vem no livro, de facto: confusa, enrodilhada, turva. Porém, o que eu buscava era o prazer duma vida simples.

(eis que me deparo com um problema fundamental : tentar ler algo de António Lobo Antunes.)

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