Chega-se ao amor com a boca em chaga, os pulsos, a memória.

Existem palavras que são como património e só se deveriam transmitir por herança ou testamento. Pára. Fala baixo. Devagar. São códigos que, acredito, só nós conseguiríamos decifrar. Pausas e entoações que não fazem sentido em mais nenhuma boca. Os outros repetem-nas sem saberem que levam consigo um segredo ou um episódio de magia. Já tu, pedes-me que pare, naquela tua voz tão pouco convincente, e nesse momento não me consigo recusar a nada. Convoco as promessas, as vontades adiadas, a sabedoria iminente do que pertence ao corpo e reconstruo o fogo. Deixo arder até que tudo se consuma por si, lavaredas que começam nas mãos e vão a atear até ao perfeito da boca. O poema diz que o coração é um órgão interdito e só por isso nos permitimos à fuga. Há poemas cheios de verdade. Não ousarei tocar-te de novo no coração. Paramos a tempo do desastre, paras-me a tempo do desastre. Sim, reclamo mas gosto. Pede-me. Ordena-me de novo que pare.

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