Apontamentos de uma viagem: Puno.

A Manuelita, mulher com cara de Manuelita, abraça-me na despedida como se fosse sua sobrinha e vem à porta dizer-me adeus. Os outros, que me esperavam dentro da carrinha, olham-se surpresos. Não imaginam que apenas conheci a Manuelita ontem. É assim. O taxista apresenta-me: primeiro bebem, depois dançam. Às vezes, o contrário, começam na dança e acabam na bebida. Independentemente da ordem, dança-se e bebe-se. No dia em que cheguei não foi diferente mas havia uma luz nova na cidade. Celebrava-se a festividade da Virgem Maria da Candelária. Eu, que há anos não vou a uma missa, juntei-me à procissão que percorria a avenida. Passaram-me uma vela para as mãos e segui com eles como se pertencesse ali. Desorganizados e fervorosos crentes, estive com eles no passo lento, no andor pesado, na música da banda filarmónica, canção única e com aquele acorde final que primeiro se estranha e depois se espera, na oração por los siglos dos siglos. Em Puno chorei e não sei por quem.

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