Não há angústia existencial quando se está na pastelaria a hesitar entre um mil-folhas e um éclaire de chocolate.

Na passagem da fronteira sou sempre quem esquece tudo e ali se recomeça. Atravesso territórios outros que não cabem nos pressupostos espaciais de sermos raizes debaixo do sol em lenta espera. Deixo para trás a casa, as contas, as pessoas e as rotinas. Por esta hora, não recordo já o código postal, sequer o que faço. O mundo entra em pausa, finalmente. Respiro pensando na alegria que é respirar e assusto-me sempre com a facilidade com que a vida se muda na geografia da memória, o pensamento já tão distante e em vôo livre. Debaixo do sol, o meu único problema é agora decidir se é ainda cedo ou não para se comer um pastel de nata.

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