Tudo o que te disser, tudo o que escrever, sou eu a perder-te.

Nunca entrei dentro da dor. Todas as minhas dores sempre foram passageiras, fragmentadas ou estrangeiras, quase como parentes em segundo grau. Talvez seja por isso, não sei, que por vezes sou oblívia à tua dor. Distraio-me com facilidade. Sei que existe e que veio para ficar, porém. Mais que isso, sei que não posso fazer nada a respeito, o que me frustra e me paralisa na mesma medida. Só existo e parece-me tão pouco.

Há dias em que noto-lhe as sombras. São palavras ausentes, silêncios que duram demasiado tempo e também hiatos de felicidade, ecos de felicidade, a vida que já não se completa. Noutros, és torrente de esbanjar e não te poupas às vontades. Nenhuma tentativa é vã, tentasses tu. Pouco mais lhe conheço. Nunca perscrutei a tua noite. Nunca quis ousar a visita às ruínas da tua saudade ou sequer incomodar-te os pensamentos, mesmo esses. Sobretudo esses. Esta história não me pertence. Mesmo escrevê-lo é já algo a que me furtaria de boa-vontade, mas é preciso que saibas e que não tenhas dúvidas. Bem sabes como sou fraca com as coisas de sentir, ou será do dizer, e como me ofende o turismo da tragédia. Habitei sempre nas fronteiras desse território que delimitas tu. Nunca te pedi ou pedirei mais do que a resposta que me dês e está tudo bem. De ti, sempre quis pouca coisa, apenas tu.

Nesses dias, observo-te o natural sentido prático de quem não insiste nem desiste mas ama o seu destino tal como ele é porque o passado é uma história que não podemos mudar e o futuro ainda está todo por fazer. Nesses dias, como em todos os outros, não sei para que te sirvo. Afinal, sempre levaste muito bem a vida pelos caminhos que te aprouve, antes e depois de mim, e o coração sempre foi insular. Mas nesses dias, meu amor, que saibas que nunca adormeces sozinha porque em todos cabes no meu abraço. Beijo-te o cabelo, a hipérbole da boca, e a dor afasta-se um bocadinho, só por esta vez, Simona. Sim, dói porque estás viva. Dói, mas estás viva.

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