O que encerras num abraço quando abraças alguém não é um corpo: é tempo.

Poderia dizer-se que conhece bem os caminhos que vão de um sentimento ao outro. Poderia dizer-se que sabe bem o que compete a cada um, o explícito dos contornos e o tempo que os separa. Ao contrário de muitos, não tem medo dos sentimentos e, se não fala deles, é só porque assim decidiu. Esse era ainda também um dos meus muitos motivos, tão simples e talvez por isso mesmo tão distintivo. Quando outros não reconhecem uma tristeza e a mascaram de outras coisas, outros nomes mais leves e mais aceitáveis, uma chatice, um aborrecimento, ela diz-se triste. Quando outros se recusam à felicidade e a minimizam em jornadas de sacrifício e vai-se andando, ela diz-se contente, por vezes até feliz. Não usa de eufemismos e metáforas. Não tem medo das palavras. 

Hoje dividimos a mesma tristeza. Esperamos o tempo dos recomeços em silêncio. A noite não precisa de palavras.

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