Se puderes, não me admires.

Acontecem situações dessas, remotas de imprevisibilidade e, por isso mesmo, ainda mais apelativas. Hesitei. O ordenamento de território exige, como o nome sugere, ordem. Não podemos de um repente colocar um cruzamento onde está um riacho ou desatar a encher a avenida de rotundas e ciclovias sem primeiro indagar das variadas e múltiplas implicações de assim proceder. Há ruas que foram desenhadas para se manterem paralelas, traços no mesmo mapa, conhecedoras dos hábitos e preferências umas das outras, mas distantes no espaço e incomunicáveis por princípio e desígnio. As minhas vidas também são ordenadas, paralelas umas mais do que outras, e sei do perigo que é cortar assim por uma esquina e começar a enfiar carros em sítios de sentido proibido, sem que exista infraestrutura preparada para o efeito. Hesitei, por isso.

Todavia, mesmo situações dessas, remotas de imprevisibilidade, sucedem-se, por vezes. Sou honesta no meu intento: aproveito-me. A fama dela, o proveito meu. Aviso-a também de que esta que escreve não é a mesma que esta que fala. Haverão de registar-se incongruências, embaraços, espantos, talvez. Advirto-a de todos os riscos. Acima de tudo, se puder, que não me admire.

Sem comentários: