Há silêncios saturados de começos como os há saturados de partidas.

Amaramos. Somos num repente como quem jogasse à batalha naval, tu essa ilha onde não consigo atracar, água em toda a volta, em todo o lado. Escapa-nos a alegria de uma deriva. Os olhos contam a persistência do certo, os desencontros que se acumulam nos corpos deslargados do que fomos.  Olhar-te nos olhos é sempre querer cair dentro deles sem vacilar na queda. E porém, o tempo que passa sou eu a perder-te. O tempo que passa sou eu a perder-te. Gosto tanto de ti. Em breve deixaremos de contar os dias e não restará de nós mais do que um esboço. E porém, como é ainda nítido o rosto e o riso, o rosto e o resto, “como é nítido o que desaparece de súbito”, escreveu. Não teimo na dor. Somos um lugar belo mas devoluto, onde estranhos vêm de longe a admirar as ruínas da nossa intimidade. Quando nos bate o sol, seguimos como os gatos, de sombra em sombra.

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