Madalena, não queiras para ti uma infância asséptica.

Quando acabávamos de plantar, as unhas sujas da terra, íamos roubar pêras às pereiras do vizinho, esperando que não tivessem veneno nem bicho. Bebíamos água directamente do furo e sentíamos-lhe o sabor evidente a ferro. Enquanto esperávamos pelo arrumo dos tractores, debruçávamo-nos sobre o poço e atirávamos pequenos seixos às rãs que encontrássemos. Lembro-me bem da árvore espreguiçadeira que caía para dentro do poço, cresceu tanto que houve uma altura em que quase o ocupava todo. Hoje não existe, ocupa apenas a memória.

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