Radislav Krstić: tragam-me alguém que tenha ouvido falar de Srebrenica.

Dizem que era boa pessoa, aliás, uma excelente pessoa. Dizem que não faria mal a uma mosca, estão enganados, não pode ser ele. Pois ele ~e o tipo de pessoa que ajuda velhinhas na passadeira, que paga a conta do hospital a desconhecidos, que não se mete em problemas nem com más companhias. Ele é aquele em que todos confiam, um bom rapaz da terra, com valores, nunca foi violento, nunca se ouviu dele uma queixa. Ele não faz mais do que pescar e, mesmo quando pesca, nunca guarda o peixe só para si, sai a distribuir pelos vizinhos. Dizem que andou na escola com pretos e brancos e amarelos, gordos e baixos, e que nunca lhe interessou a política, deixava isso para outros com mais inteligência e paciência do que ele.

Não entendem. Não se entende. Também outros, o taxista, o empregado de mesa, o pedreiro, zés-ninguems. De repente a guerra começa e tornam-se exterminadores implacáveis, violadores em série, saqueadores e torturadores da pior estirpe. A guerra muda as pessoas. Ou talvez não quem são verdadeiramente, mas somente as suas circunstâncias. Talvez sejamos todos monstros em potência esperando entre guerras.

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