Não te salvo, não me salvas – nem é certo, quando o medo se demora, que haja ainda o que salvar.

Por vezes quero ainda voltar a esse lugar inaugural dos segredos com o deslumbramento de quem te poderia salvar. A ternura vinha na soma das fragilidades com a mesma força com que o engano da utilidade. Parece que todos nos servimos dos heróis, mesmo que essa não seja condição explícita para o abandono a uma certeza. É engraçado como nos recorremos do plural para diminuir as falhas e as vontades que são singulares, de repente faço deste um desejo e uma culpa colectiva. Fui eu quem te quis salvar. À distância dos dias, reconheço o egoísmo desta ideia e questiono a constância do nosso destino ou, a ser mais exacta, a falta dele. Não sei já se é milagre ou maldição ser-se feliz e sabê-lo. O inacabado preenche-me, estranho paradoxo. Hoje há o irreparável de sermos margens e porventura seja por isso que gosto ainda de voltar àquele momento de rio sem sítio seguro onde desaguar que não fosse uma na outra. Talvez apenas a ingenuidade possa salvar.

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