O amor é de quem precisa dele.

Pergunta se me importo de mudar de lugar para que se possam sentar juntos. Os pombinhos sentam-se sempre lado a lado. Acedo, mas não sem deixar de pensar que é este um comportamento do mais infantil, uma grande fragilidade de quem não consegue existir por si. O que lhes parece devoção dá-me pena. Pergunto-me qual dos dois precisará mais daquele amor. Diz-se que há sempre uma parte que gosta mais do que a outra, que as relações são sempre entre desiguais e talvez haja aí alguma verdade. Interessa, porém, não confundir a causa e o sintoma e acredito, por isso, que o cerne da questão – como é bela a língua Portuguesa – está na necessidade. Olho-os ainda e acho que é ele. Mais velho, mais feio, mais barrigudo, mais careca, mais enfadonho. Talvez aquele amor o valide, talvez precise de o preservar para que o possa exibir. Naquela relação, é ele o mais necessitado e pergunto-me o que será dele se suceder que termine. Afinal, foi ele que me veio pedir para se sentarem juntos.

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