É uma sensação que não sei explicar e que se mantém à superfície durante os primeiros dias. Este sentimento estranho de pertencer e não pertencer a um lugar, espécie de vazio com o apelido da liberdade. Está tudo no mesmo sítio e o que há de novo é muito pouco para agitar um Domingo. Mesmo o mais recente escândalo – o primeiro gay assumido na aldeia – soa-me a não-assunto, uma conversa que prefiro não ter pelo simples motivo de não me importar para nada. Olho aquelas pessoas, os seus hábitos de ocupar a solidão quotidiana, e reconheço partes de mim. Eu sou aqueles homens e aquelas mulheres a encher a avenida para mais tarde poderem dizer que viram o carnaval. Eu sou aquela massa uniforme de gente, gordos e feios, todos iguais até no feitio e no trato, nas suspeitas e nas invejas pequeninas. Sou isso mas não só isso e talvez haja aí uma diferença importante. Se penso em voltar, pergunto para quê e é uma pergunta que não ouso levar até ao fim com medo de não lhe encontrar resposta. Faço do tempo aliado e aposto a vida num jogo de azar, inconsequente sem outra morada senão o teu nome. A pergunta surge, certa e irrepreensível. É verdade que não sei o que faço aqui. Porém, saberei melhor o que faço lá? Talvez seja por isso este medo de voltar. Talvez seja por isso melhor que tudo continue como sempre foi, a fim de que se possa ainda chamar casa.
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