She cares.

É sempre de uma nostálgica inquietação voltar-se a um sítio onde se viveu. Pergunto-me o que sentirei um dia quando sair daqui. Voltar a Oxford não poderia ser diferente, mas talvez o facto de ter lido das ruas no romance de Javier Marías, recentemente, tivesse aumentado a atenção. Já vivi ali. Desesperei e amei na cave daquela casa, sorvi o inesperado do sol debaixo dos ramos daquela árvore, já principiava o verão e eu dava por mim a treinar a clareza da voz, lia-te ao telefone passagens de livros e o brasileiro dissera que eu lia muito bem e eu envaidecia-me mas não era por mim, era por ti, porque tudo o que eu era naquela altura te pertencia por direito. Fui feliz ali e é sempre perigoso regressar onde se foi feliz, advertem. “Vem mas é para casa.” É verdade que me chocou o número de sem-abrigo. Aqueles já não eram os meus, arranjei outros noutra cidade. Tudo o resto, porém, ainda fazia sentido. Sobretudo quando os encontrei e quando me abraçaram, mesmo que fosse por cortesia. Não o abraço dela, nota-se. Não o dela quando, mais tarde, diz o meu nome sobre os demais, a sua equipa fantástica. Está mais bonita e mais leve. Talvez o futuro deixe as pessoas assim e, de facto, há pessoas que não têm idade, só têm tempo. O tempo dela era o futuro ali a começar. She cares, alguém leu. E essas duas palavras resumiam tudo.

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