Esa sensación de no haber perdido tu tren.

Gosto muito do verbo “acostar”, em Espanhol. Numa tradução literal, não encanta por aí além. Se não me falha o entendimento da língua, que não tenho desta doutrina mais confiável do que aquela que lhe inflijo ao ousar as séries sem legendas, tem o mesmo sentido do Português “ir para a cama”, seja de deitar-se para dormir ou de deitar-se com alguém, um eufemismo dos mais virgens. Contudo, como é poeticamente belo acostar-se em alguém. E também dolorosamente verdadeiro, pois nunca chegamos a ocupar ou a conhecer o território desse outro por inteiro. Com sorte, porém, encostamos a um corpo, encontramos amparo, damos à costa.

Aproveitei-me da tua inesperada boa disposição para te examinar o rosto e assim permaneci por um bom par de segundos, apenas sorrindo para o ecrã ao ver o teu sorriso torto, de quem cede e ao mesmo tempo de quem desafia. Reclamas mas gostas. Enche-me de alegria continuar a encontrar as covinhas no seu lugar, sobretudo quando mais provocadas de intempéries. Se me visses neste instante em que escrevo, repararias que nem agora consigo evitar o sorriso na lembrança do teu. “A comida é boa, o coração é simples.” Poder olhar-te nestes momentos incertos, mistérios que o universo lança a contornar a desordem de existirmos, é-me uma dessas sensações de alívio e de paz. Aquela ainda és tu. E eu ainda sou quem quer acostar em ti.

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