A matriarca.

Está quase e volto àquela fotografia que já esqueceste. Quero ver-te. Mais uma vez. Todas as noites, a última. É inútil que te conte da inundação no peito, cheio quase a explodir de tão súbito. Ou, mais apropriado, dizer-se incendiado, pois foi de um calor que não se aguentava na parede dos ossos e que secou quaisquer pensamentos que por ali se passeassem àquela hora. A verdade é que não há figuras de estilo, fogueiras de estilo, que contenham aquele sentimento. Em todo o lado ouviu-se o meu “amor”, a palavra imediata. É só uma fotografia, dirão. Porém, há por aí fotografias que nos anunciam o futuro que nem cartas de tarôt e a tua é dessa categoria. És um retrato do porvir.

Nela não está só uma mulher com um sorriso de paz e um bebé ao colo, seguro e tranquilo. Olha-se e sente-se já o cheiro da pele, o toque tão manso e inocente e a vida de repente sossegada e resolvida. 

Aquela és tu, amor. Tu, como sempre te soube e esperei. Descobri que te queria para mãe dos meus filhos muito antes de te querer para a inquietação do corpo ou para as alegrias quotidianas com que nos entretemos. Não sei se acreditas que sempre te reconheci assim, matriarca. Por isso a inundação de incêndios. Porque aquela fotografia podíamos ser nós e não seria presságio, mas destino. Tu sorris, porque sabes.

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