É sempre em vão que assediamos o preconceito da dignidade.

Leio o “Man’s Search for Meaning” e deparo-me com a ideia do sofrimento digno, que sempre me causou estranheza. É certo que nos podem tirar tudo menos o poder de decidir e que é a escolha que tomamos face ao que nos acontece que nos faz, seja isto num campo de extermínio ou noutro lado e circunstância. Mas o que é isso de dignidade senão uma ideia circunscrita no tempo e espaço, costumes e tradições? Quantos querem ser mártires, cobertos de dignidade até à ponta dos cabelos? A moral que lhe está associada é, para o bem e para o mal, relativa. Existe sequer, ou é justo – por si outra abstracção – que se fale de sofrimento indigno, se o sofrimento é sempre um absoluto incomparável? Vem a sua dignidade da causa ou da consequência do sofrimento? Nem todo o sofrimento é estéril, mas isso não o torna desejável, merecível. “Tenho aprendido muito com o meu AVC. Mas não precisava dele para nada," lembro muitas vezes. De igual modo, a ideia de morte digna. Nem a vida nem a morte são coisas de merecer.

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