Cabe-me a sorte de cedo na vida ter descoberto a minha palavra e o meu tempo verbal preferidos, fenómeno que, assim o espero, me livrará de infortúnios e outros mal-entendidos e me traz a quietude inerente a qualquer certeza, mesmo as menores e óbvias. Também a minha pessoa preferida, se aqui tivermos de abrir agora em esforço o coração. Terá começado contigo, que sempre me iniciaste nos mais simples das palavras. Eu sempre a complicá-las, a mascará-las, a enredá-las e elas, afinal, simples. Tão simples. O meu tempo verbal preferido é o presente perfeito. Logicamente.
Usa-se para descrever algo que sucedeu no passado, pode continuar no presente, e/ou pode até prolongar-se para o futuro. Tendo existido no passado, persiste ainda com uma natureza que é palpável e deixa rastro. Como no paradoxo do gato de Schrödinger, é um tempo verbal que, ao mesmo tempo, não está e está, é memória e esperança, instante e permanente. Ambíguo, mas também seguro. Há nesse tempo verbal um pressuposto de continuidade que invejo. Quando crescer quero ser o presente perfeito.
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