Queriam telenovela, era?

Causa-me um certo incómodo uma certa cultura bacoca, repleta de certezas e uníssonos entusiasmos, e pior quando se formam em segunda ou terceira mão, sempre por arrasto, sempre suspeita e incrédula até que venham outros, se possível uma multidão, a confirmá-lo e validá-lo para que se possa puxar da palavra sem medo de represálias ou controvérsias. Uma cultura muito preparadinha e armadinha que, em momento apropriado, se engalana de frases feitas e citações mal-atribuídas, do trunfo do consenso e, ainda mais retumbante, do trunfo do “já conhecia”, um eu-cheguei-primeiro tão legítimo quanto um o-ar-é-de-todos, mesmo que tenha sido uma coisita superficial, uma coisita de esguelha e mal-amanhada. Salvé, sua excelência, verguemo-nos ante esta jorra de sabedoria e de luz com que se dignou abençoar-nos a nós, pobres de espírito. Foi assim com o Recordações da Casa Amarela. Tão bom, tão bom, mas afinal só eu fiquei acordada. Podem apagar a televisão.

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