Escrever sobre ti neste dia é uma missão tão arriscada quanto impossível, mas os objetivos só se alcançam com trabalho, como diz a tua avó, portanto é preciso perseverar. Tento, por isso, sabendo de antemão que tudo será pouco para o quente no peito que sempre deixas. Demorei-me a olhar-te os olhos na despedida na esperança de que entendesses tudo o que te queria dizer, mas, pelo sim, pelo não, repito.
Escrevo sobre ti desde o dia em que te conheci - tínhamos menos dez anos do que agora e tu ainda gostavas de cozinhar, mas garanto-te que foi ontem, amor. Gosto de salientar isso, o tempo, pois é também assim que nos medimos. Demorei vinte e sete anos até te conhecer. E um dia, saber de ti tornou-se sede e os dias passaram a contar-se dali em diante. Tu vieste, e eu nunca tinha conhecido ninguém assim. Ainda não conheço. É uma responsabilidade grande, já o deves ter notado, mudar assim a vida de alguém. Nunca mais te livraste de mim. Vejo-nos e congratulo-me. É que é tão fácil distrairmo-nos e combinarmos uma vida como quem combina um café que nunca acontece, sabes? O que não fizemos perdura maior do que o que já fizemos, mas o que já fizemos é muito. Vamos crescendo juntas e (mas?) atentas ao silêncio. Já fomos tanto e de tantas maneiras, já pisamos as margens de muitos sentires, e essa aventura só é possível porque as raízes são fortes e fundas, puras. Contra todas as probabilidades, seguimos, e poder criar memórias e definir futuros contigo é coisa para me encher de alegria, mas daquela mesmo a sério, joy.
Sou orgulhosa de ti, embora tu não entendas o orgulho e não se me possa atribuir contributo significativo para quem és, é tudo teu. Acima de tudo, sou orgulhosa de mim, por te ter conseguido manter na minha vida ou por acreditar nessa ilusão, dado que, a dizer a verdade, é sempre tudo como tu queres. Inspiras-me, refinas-me, fazes-me sentir em paz. Conheces-me e isso não é pouco. És o meu sorriso aberto e aquela ideia parva de felicidade que aparece nos livros. És casa e liberdade e a minha convicção maior, meu desastre mais bonito, palavra preferida, minha amiga, meu Euromilhões, minha vivenda com vista para o mar, meu amor. Não sei enumerar qualidades nem defeitos e balbucio se tento explicar porque te quero tanto e tão bem, pelo que terá isto de agora bastar. O resto, reserva-se para o toque das mãos que se acolhem, olhos que se perscrutam como mapas. Estarei como até aqui, sem ser plano nem objetivo. Simplesmente estarei.
Talvez acrescentar que, se tivesse de morrer e nascer de novo, outra vida e outro tempo, haveria de te querer amar, ou de ser tua mãe, ou de ser tua amiga, ou de ter filhos teus, ou de que os meus filhos te amassem, pois és pessoa especial e a vida é mais bonita contigo por perto. Neste dia, que teimarás não ser especial embora te saiba bem o carinho, desejo-te o de sempre: que a vida te seja leve e harmoniosa. Quero que sejas feliz.
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