A César o que é de César*

Hoje senti-me particulrmente indignada, revoltada e enojada com a Igreja Católica no geral (e não, nada tem a ver com posts anteriores!) e com a minha "querida" Paróquia em particular. Hoje na missa (sim, a minha vida é todo um paradoxo!) questionaram-me, com um inocente à-vontade, se eu já tinha "o dvd do aborto"!!? O mesmo dvd, alvo de notícia da SIC à uns dias (por andar a ser distribuído numa escola, A MENORES), dobrado em português do Brasil e que mostra como se faz um aborto, de uma maneira muito fria e cruel. Aliás, acho que, não sendo certamente este o título, é de resto muito parecido com "O Silêncio dos Inocentes"...E anda a ser distribuído às catequistas da Paróquia e outros interessados! Shame on you!
Além do mais, o cântico final de hoje foi tão "bem escolhido" que me reservei ao direito de não o cantar, já que envolvia frases como "Deixai vir a mim as criancinhas" e "Não é da vontade do Pai que se perca um só dos pequeninos"... Será que só eu é que acho isto uma afronta, uma maneira nojenta de pressionar as pessoas a votarem Não??
Não ignoro o papel que a Igreja tem na nossa sociedade mas desilude-me pensar que muita gente poderá votar Não, simplesmente por "obediência" ao 5º Mandamento...Enfim.
José Pacheco Pereira escreveu a este propósito um interessante artigo na "Sábado" desta semana (a "Sábado" traz como capa "O que Você Ainda Não Sabe" com a imagem de um feto; a "Visão" traz como capa "Mortes Clandestinas" e tem como imagem de fundo mulheres que morreram; resta-me perguntar: objectividade? imparcialidade? hoje quer a revista do sim ou a do não?), intitulado "Uma última guerra de religião", do qual, dada a sua pertinência, me permito reproduzir um excerto:

"Quando se olha para os defensores do "sim" e do "não", arrumados em cada metade do seu palco no Prós e Contras, percebe-se que a fractura que os divide é essencialmente religiosa. Significa isto que não há "sins" católicos e "nãos" agnósticos? Certamente que não, mas são excepções. (...) há no "não" uma rede comum por trás, um fio que os entrelaça, mais evidente do que nos do "sim", mais heteróclitos e diferenciados entre si, e esse fio é a Igreja vivida, uma religião que não é apenas contemplativa, mas exercida como dedicação a causas. Eles são militantes, soldados, que marcham ao som de rebate de um "sim" que trará mais autodeterminação individual à sociedade, menos trasnposição de uma visão religiosa para as leis civis, mais laicidade à vida comum. É natural que vejam nisso um perigo, um cerco aos seus valores, uma perda de influência real da Igreja, do seu mundo. (...) Há algum problema no facto de a Igreja, mais pelos seus leigos do que pelos seus padres, estar envolvida no "não"? Nenhum, bem pelo contrário. A Igreja é uma realidade profundamente mergulhada na vida portuguesa, não apenas nos adros das igrejas do Minho rural, mas também no topo da vida política, intelectual, económica , financeira, profissional, académica. É isso que muitas vezes esquecem alguns dos partidários do "sim", que conhecem mal o seu País e acham que a Igreja é o cura retrógrado e libidinoso da propaganda republicana. Não é, é uma das forças mais vitais da sociedade portuguesa, com enorme influência e capacidade de organização, menos dependente do Estado que os partidos, mais envolvida na "sociedade civil" que muitos dos movimentos do "sim". Se o "não" ganhar deve-se à Igreja e aos seus soldados, se o "sim" ganhar será porque conseguiu que muita gente vote pela razão e não pela fé e pela pertença. Não custa perceber que será mais fácil ganhar o "não" do que o "sim", mas o resultado será um teste sobre o modo como os portugueses pretendem moldar o seu futuro".

É restritivo pôr de um lado a Igreja e do outro...o resto, mas, infelizmente, parece-me que é mesmo assim.
Já votei. Como já o tinha dito, votei Não. Mas em consciência e depois de ponderada (e demorada) reflexão e não por motivos menos válidos. Gostaria que assim sucedesse com todos...
Prometo que este é mesmo o último post sobre o tópico do referendo ao aborto! Quer ganhe o sim quer o não, é benéfico e curioso salientar que, para o fim, ambas as campanhas se aproximaram mais e o debate tornou-se mais sereno. Até porque, afinal de contas, o mundo não é a preto e branco e há coisas na vida que não se podem decidir por um claro "sim" ou por um rotundo "não". Daí que todas as línguas contemplem o "talvez", o "mas", o "depende"...
Não gostei da "birra" do Eng. Sócrates: ou ganha o "sim" ou não se muda nada. E gostei das alternativas à pena de prisão apresentadas pelo "não", embora de certo modo hipócritas (é crime mas não tem punição, como no sketch dos Gato Fedorento?).
Não vou fazer comentários pós-referendo. Resta-me esperar que não seja a Abstenção a ganhar e que alguma coisa mude de facto...
* E a Deus o que é de Deus :)

1 comentário:

JAM disse...

....a hipocrisia, é a base da Igreja católica, linda, já devias ter percebido isso, eu não vou á missa, mas uma coisa posso garantir: estivera eu nessa....."celebração" e o padre teria engolido um dvd....sem sal....sem água benta.....sem nada... :P
Tu ainda vais á missa?
Não quero ser mauzinho, mas, tu acreditas que um padre fala por deus?
Sabes, eu uma vez tive uma discussão com uma tia minha....que é muito mesmo muito beata...ela repreendeu-me por eu desrespeitar um padre que me chamou fedelho.....disse ela( estupidamente) que o padre fala o que deus quer dizer aos Homens de deus...
Eu só lhe respondi, na minha inocência:" se deus quisesse falar aos Homens....usava um megafóne"

Era novo....mas desde então...perdi muito o respeito.....perdi mesmo....pelos padres isto é.
Nunca compreendi porque sentem as pessoas necessidade de ir á missa...é algo que me deixa confuso!