Os Amores de Salazar

Não querendo parecer nenhuma pseudo-intelectual-com-aspirações-a-iluminada, :) não podia deixar de apresentar aqui uma espécie de review ao livro que terminei ontem de ler - "Os Amores de Salazar", de Felícia Cabrita, reconhecida jornalista de investigação que denunciou o escândalo Ballet Rose e Casa Pia.
Posso dizer que foi uma agradável surpresa! Porque ao contrário do que eu julgava, e daquela que foi a imagem forjada pelo aparelho de propaganda do regime, António de Oliveira Salazar não era propriamente o homem austero, virtuoso, casto e "casado com a Pátria", que gostava de parecer. Contrariamente, teve várias mulheres (cerca de uma dezena) na sua vida e relações bem carnais! Glorificou o lar e a família mas nunca se pautou por esses príncipios ("faz o que eu digo, não faças o que eu faço"). Afinal, o nosso ditador também era humano...
Salazar surge como uma personalidade complexa, multifacetada, contraditória até. Como descrito no prefácio de Diogo Freitas do Amaral, vejamos: Ele foi "o universitário político, o católico altivo perante a Igreja, o monárquico que consolida a República, o apreciador de multidões que não as excita nem se excita com elas, o militarista que nunca veste uma farda, o europeu que não gosta de viajar pela Europa, o defensor intransigente do Ultramar português que não conhece uma única província ultramarina, o Chefe todo-poderoso que vive apenas do seu magro vencimento e, ainda assim, todos os meses dá o que sobra em esmolas a instituições de caridade e sai do Governo tão pobre como entrou, enfim, o Ditador que, sem qualquer guarda pretoriana, triunfa de todas as tentativas de assassinato, golpe militar ou anarquismo terrosrista - e, ao fim de 40 anos de poder ininterrupto, morre tranquilamente na sua cama, sem que à noticía do seu falecimento se siga em nenhum ponto do país qualquer manifestação de júbilo por parte dos seus mais ferozes inimigos".
Essas características complexas englobam igualmente a sua vida privada: tem famíla mas raramente os vê ou com eles celebra festividades; tem muitos poucos amigos, mas mantém-nos à distância para não ser influenciado; católico, terá perdido a fé a partir da meia idade; convidado para todas as grandes festas dos magnatas do Regime, não vai a nenhuma; podendo passar férias em qualquer palácio nacional, descansa em Santa Comba ou no Forte de Santo António no Estoril...
Em relação a esses amores, surpreende-me encontrar um Salazar "Pinga-amor", mas com romances longos (e não encontros passageiros!), onde há diálogo intelectual mas também afecto, carinho, amizade. Certo é que as mulheres eram devotas a Salazar e ele aproveitou-se disso, em algumas situações, para as tornar suas informadoras e mensageiras das suas ideias. Não obstante, findo os amores, nunca as abandonou de todo e nunca as esqueceu.
Confesso que fiquei com uma renovada visão desse figura incontornável da nossa História. Não querendo soar a salazarista, tudo nele, me parece agora diferente, singular, sui generis. Ele foi o "bom tirano", o paternalista, e é também por isso não me espanta tanto, quanto a alguns, o facto dele ter sido nomeado no programa "Os Grandes Portugueses". É impossível esquecer todas as atrocidades cometidas durante a sua ditadura mas, numa época de diluição de valores, de descredibilidade das instituições, de falência económica e social, como a que se vive hoje, a memória de tempos ora melhores surge facilmente. Até porque Salazar conseguiu equilibrar as contas públicas e fez um brilhante trabalho ao alhear o País, com inteligência e ousadia, à Segunda Guerra Mundial.
Não sou de todo, repito, uma defensora de Salazar, mas acho que só um génio (a minha "pancada de estimação" pela genialidade dos ditadores e de Alberto João Jardim, ditador com estilo próprio! :D ) conseguiria subir do mais baixo patamar até ao de Presidente do Conselho e deter-se no poder por tão longo período...
Sabia que:
*chefe político supremo do País, Salazar nunca aceitou ser Presidente da República, arriscando ter alguém acima dele com poder para o demitir?
*Ao contrário de outros ditadores, Salazar nunca aceitou aparecer fardado?
*Acreditava na indissolubilidade do casamento, mas insiste até ao fim para que na Concordata de 1940 se mantenha a possibilidade de divórcio?
*Acolhe na sua residência oficial de S. Bento duas jovens que trata como afilhadas ou protegidas?
*Teve um caso com uma astróloga de quem não descurava a leitura dos astros aquando da tomada de importantes decisões?
*Salazar terminou o curso de seminarista mas desistiu de ser padre porque, a bem da verdade, se apaixonou?
* Terminou o Seminário com 16 valores e a licenciatura em Direito com 19 valores?
*Salazar envolveu-se com uma mulher casada?
* Apaixonou-se por uma jornalista francesa a quem não olhou a despesas para cobrir de mimos?
* Tinha a alcunha, entre as mulheres, de "Troca-Tintas"?
Ah pois é! :)

3 comentários:

MC disse...

olá!decidi aproveitar o teu convite para vir cá e deixar um primeiro comment:)
desde já deixa-me dizer-te q me deste alguma vontade de ler este livro´! abordar uma faceta mais desconhecida de um ditador é sempre uma ideia interessante e, confesso, parece-me ser ainda mais interessante por ser uma abordagem feita pela felicia cabrita.

num tópico totalmente diferente, deixa-me congratular-te por admirares a joana amaral dias (é um elogio estranho, mas pronto lol) pq ela é de facto mulher de convicções fortes e q também aprecio mt, apesar de tb nao concordar c algumas coisas q diz. é um bocado na linha da deputada ana drago (mas talvez mais moderada). agora tou c pena de não ter essa "única"... tb qem é q me manda comprar o "sol":p
Parabéns pelo blog, e ganhaste mais uma leitora:)

JAM disse...

HEY, então quer dizer que o Salazar era Humano?

Agora deixa só fazer passar a minha face á la macho latino....
SÓ uma dezena de mulheres em toda a vida?
....HAHAHAHA.....
mariquinhas!....

.....desculpa, linda....eu tinha de fazer esta piada....
jinhos

Marisa disse...

@MC:
Obrigado por teres vindo visitar e, mais importante, por teres comentado! Espero poder continuar a aprender e a partilhar opiniões ctg/ convosco. :)
Fico contente por saber que consegui suscitar em ti algum interesse no livro. De facto recomendo-o exactamente por aquilo que disseste: porque aborda de uma forma interessante uma faceta menos conhecida do nosso ditador...
Qt ao assunto da Joana Amaral Dias, é realmente um elogio estranho :) mas bom de se ouvir! :) É bom encontrar pessoas com interesses em comum! :)
Obrigado uma vez mais* bj

@Kurotenshi:
Sim, afinal tb ditadores têm lado mais humano!
Qt à piada "à macho latino": lol, ou melhor, um mt sincero lol :)
BJ*