Aprender com os Outros

Há um sítio a que sempre vou quando me sinto mais vazia ou com menos esperanças - Dentro do Copo Vazio. Pura poesia. Puro sentimento. Puro prazer na leitura desse copo que, de vazio, já nada tem...Ou melhor dizendo, uma leitura que transforma copos meio vazios, como o meu, em copos meio cheios. Bem haja por isso, Always!


E é assim que hoje, e tendo em conta a falta de tempo com que me deparo nos últimos dias, quero simplesmente deixar-vos com este magnífico texto, (espero que a autora não se importe) que me permito reproduzir aqui...

foto de João Camilo


"Que fazer com os dias em que nos sentimos ausentes de nós mesmos? Que fazer dos momentos em que nos sentimos fracos, básicos e pouco sofisticados nas ideias? Que fazer daquele instante em que falhámos redondamente no que quisemos dizer e tudo parece descarrilar a partir daí? Que fazer da nossa imperfeição como pessoas? Eu não sei. Não vou saber nunca, porque sou humana e a minha condição enquanto ser humano é aquilo que em arte se designa 'work in progress'. E como 'obra não acabada' que somos todos, somos muitas vezes inconvenientes, despropositados e injustos. Está na nossa natureza, estamos em permanente construção. Na melhor das hipóteses, vamos aprendendo à custa do erro. Assumir que erramos é um passo em frente no que nos queremos edificar. Errado seria rejeitar as fraquezas em vez de trabalhá-las com a fé de, amanhã, acordarmos melhores pessoas. Mas não somos apenas imperfeição, temos coisas boas que nos espreitam e que damos aos outros sem reservas, em acto de generosidade absoluta. Por vezes, somos magnânimos na entrega e inteiros na partilha. Somos muitas coisas ao mesmo tempo e coisa nenhuma de uma só vez, porque não existem momentos absolutos e, mesmo que existissem, nunca chegaríamos a ser completamente perfeitos ou estupidamente imperfeitos. E nos dias de alma vaga, é só isso que temos de entender para relativizar as horas cinzentas em que nos perdemos num nevoeiro de coisas que só têm a importância que lhe quisermos dar, porque, em si mesmas, nenhuma importância têm. Compreender os outros é compreendermo-nos a nós mesmos. Ninguém é perfeito e ainda bem. Perdia-se a graça, a espontaneidade e a condescendência natural. E se fôssemos perfeitos seríamos tudo menos encantadores. Seja como fôr, peço desculpa por todas as vezes que fico aquém das expectativas."


por Always, in Dentro do Copo Vazio

6 comentários:

JAM disse...

Em relação a este texto, tenho uma pequena diferença na raiz da lógica......não creio que sejamos um "work-in-progress"....creio que somos uma "discovery-in-progress"....
na minha opinião todos nós temos limites, uns numas áreas, outros noutras....mas os limites estão lá sempre e apenas nos apercebemos deles quando tentamos sem sucesso.

Quanto ao que a autora diz no texto....
"
Que fazer com os dias em que nos sentimos ausentes de nós mesmos? Que fazer dos momentos em que nos sentimos fracos, básicos e pouco sofisticados nas ideias?"

tenho uma resposta:

Das duas, uma.....ou se dá porrada nas paredes , porque o stress de querer fazer algo sem sucesso pode estourar-nos a alma...( então temos de o remover), ou então vamos para a cama que o descanso faz bem.....

Essa rapariga(creio que seja rapariga), a autora do texto, tem uma maneira engraçada de expressar as ideias......gostei...

Marisa, brigado por postares esse texto, é sempre bom ler..
Ah, e deves-me metade das visitas ao teu blog....porque venho cá vê-lo todos os dias várias vezes pelo gosto que me dá ver os teus Posts e a menina não postava nada há muito tempo, deixando-me sem blog em condições para ler!
BJO

Always disse...

Marisa,

Agradeço-lhe a atenção de ter reproduzido o meu texto neste seu espaço, que estou agora a descobrir com muito agrado. Voltarei regularmente, com todo o prazer.

Sinta-se sempre bem-vinda ao meu 'copo'. É com prazer que acolho as suas visitas.

Bjo

Always disse...

Kurotenshi,

Já agora aproveito para responder ao comentário que faz ao meu texto, agradecendo desde já a atenção que lhe dedicou. Ah, e antes que me esqueça, acertou em cheio - sou uma rapariga.

Percebo a sua distinção entre "work-in-progress" e "discovery-in-progress" no contexto em questão e aceito o seu ponto de vista. Quero só dizer que quando digo 'work in progress' refiro-me à possibilidade de melhorarmos capacidades, sendo certo e sabido que todos nós temos limitações. Mas pronto, como 'obras não acabadas' sempre existe a hipótese de melhorar o que temos.

Agradeço também as suas sugestões para os dias menos bons - voto na 2ª hipótese, é indolor e faz bem à saúde. :)

Bjo

Marisa disse...

@ Kurotenshi

Com saudades das parvoíces que por aqui escrevo? :p
Agradeço sincera e alegremente cada visita que me fazes, acredita! E tenho plena consciência que és o meu maior visitante! Obrigado por isso. :)

A verdade é que tenho andado demasiado ocupada com um trabalho para Economia Financeira e o facto do trabalho final de curso estar quase parado também não ajuda. Mas hei-de compensar...

Quanto a esta salutar discussão (diz lá se não descubro coisas boas na blogosfera!), revejo-me nos dois pontos de vista. Somos, na verdade, uma obra em progresso, com muitas limitações mas iguais condições de melhoria e de descoberta interior, que, preferencialmente, devem conduzir também à descoberta do Outro.
Bj

Marisa disse...

@ Always,

Não tem de agradecer, pois é de facto um prazer poder reproduzir textos tão belos e tão bem construídos!

E obrigado pela sua atenção e hospitalidade. Acredite que também a terá por aqui. :)
Bj*

JAM disse...

Always....
não era difícil de adivinhar....a escrita apesar de ser, de certa maneira, diferente, não consegue esconder todo o lado feminino...
Até arriscava a idade.....mas não quero ofender! A escrita diz com cada coisa....

Marisa....
deves e deves mesmo!.... 'Tou a brincar linda, boa sorte para o que tens mesmo de fazer...o blog é uma diversão e não uma obrigação.