foto de João Camilo
"Que fazer com os dias em que nos sentimos ausentes de nós mesmos? Que fazer dos momentos em que nos sentimos fracos, básicos e pouco sofisticados nas ideias? Que fazer daquele instante em que falhámos redondamente no que quisemos dizer e tudo parece descarrilar a partir daí? Que fazer da nossa imperfeição como pessoas? Eu não sei. Não vou saber nunca, porque sou humana e a minha condição enquanto ser humano é aquilo que em arte se designa 'work in progress'. E como 'obra não acabada' que somos todos, somos muitas vezes inconvenientes, despropositados e injustos. Está na nossa natureza, estamos em permanente construção. Na melhor das hipóteses, vamos aprendendo à custa do erro. Assumir que erramos é um passo em frente no que nos queremos edificar. Errado seria rejeitar as fraquezas em vez de trabalhá-las com a fé de, amanhã, acordarmos melhores pessoas. Mas não somos apenas imperfeição, temos coisas boas que nos espreitam e que damos aos outros sem reservas, em acto de generosidade absoluta. Por vezes, somos magnânimos na entrega e inteiros na partilha. Somos muitas coisas ao mesmo tempo e coisa nenhuma de uma só vez, porque não existem momentos absolutos e, mesmo que existissem, nunca chegaríamos a ser completamente perfeitos ou estupidamente imperfeitos. E nos dias de alma vaga, é só isso que temos de entender para relativizar as horas cinzentas em que nos perdemos num nevoeiro de coisas que só têm a importância que lhe quisermos dar, porque, em si mesmas, nenhuma importância têm. Compreender os outros é compreendermo-nos a nós mesmos. Ninguém é perfeito e ainda bem. Perdia-se a graça, a espontaneidade e a condescendência natural. E se fôssemos perfeitos seríamos tudo menos encantadores. Seja como fôr, peço desculpa por todas as vezes que fico aquém das expectativas."
6 comentários:
Em relação a este texto, tenho uma pequena diferença na raiz da lógica......não creio que sejamos um "work-in-progress"....creio que somos uma "discovery-in-progress"....
na minha opinião todos nós temos limites, uns numas áreas, outros noutras....mas os limites estão lá sempre e apenas nos apercebemos deles quando tentamos sem sucesso.
Quanto ao que a autora diz no texto....
"
Que fazer com os dias em que nos sentimos ausentes de nós mesmos? Que fazer dos momentos em que nos sentimos fracos, básicos e pouco sofisticados nas ideias?"
tenho uma resposta:
Das duas, uma.....ou se dá porrada nas paredes , porque o stress de querer fazer algo sem sucesso pode estourar-nos a alma...( então temos de o remover), ou então vamos para a cama que o descanso faz bem.....
Essa rapariga(creio que seja rapariga), a autora do texto, tem uma maneira engraçada de expressar as ideias......gostei...
Marisa, brigado por postares esse texto, é sempre bom ler..
Ah, e deves-me metade das visitas ao teu blog....porque venho cá vê-lo todos os dias várias vezes pelo gosto que me dá ver os teus Posts e a menina não postava nada há muito tempo, deixando-me sem blog em condições para ler!
BJO
Marisa,
Agradeço-lhe a atenção de ter reproduzido o meu texto neste seu espaço, que estou agora a descobrir com muito agrado. Voltarei regularmente, com todo o prazer.
Sinta-se sempre bem-vinda ao meu 'copo'. É com prazer que acolho as suas visitas.
Bjo
Kurotenshi,
Já agora aproveito para responder ao comentário que faz ao meu texto, agradecendo desde já a atenção que lhe dedicou. Ah, e antes que me esqueça, acertou em cheio - sou uma rapariga.
Percebo a sua distinção entre "work-in-progress" e "discovery-in-progress" no contexto em questão e aceito o seu ponto de vista. Quero só dizer que quando digo 'work in progress' refiro-me à possibilidade de melhorarmos capacidades, sendo certo e sabido que todos nós temos limitações. Mas pronto, como 'obras não acabadas' sempre existe a hipótese de melhorar o que temos.
Agradeço também as suas sugestões para os dias menos bons - voto na 2ª hipótese, é indolor e faz bem à saúde. :)
Bjo
@ Kurotenshi
Com saudades das parvoíces que por aqui escrevo? :p
Agradeço sincera e alegremente cada visita que me fazes, acredita! E tenho plena consciência que és o meu maior visitante! Obrigado por isso. :)
A verdade é que tenho andado demasiado ocupada com um trabalho para Economia Financeira e o facto do trabalho final de curso estar quase parado também não ajuda. Mas hei-de compensar...
Quanto a esta salutar discussão (diz lá se não descubro coisas boas na blogosfera!), revejo-me nos dois pontos de vista. Somos, na verdade, uma obra em progresso, com muitas limitações mas iguais condições de melhoria e de descoberta interior, que, preferencialmente, devem conduzir também à descoberta do Outro.
Bj
@ Always,
Não tem de agradecer, pois é de facto um prazer poder reproduzir textos tão belos e tão bem construídos!
E obrigado pela sua atenção e hospitalidade. Acredite que também a terá por aqui. :)
Bj*
Always....
não era difícil de adivinhar....a escrita apesar de ser, de certa maneira, diferente, não consegue esconder todo o lado feminino...
Até arriscava a idade.....mas não quero ofender! A escrita diz com cada coisa....
Marisa....
deves e deves mesmo!.... 'Tou a brincar linda, boa sorte para o que tens mesmo de fazer...o blog é uma diversão e não uma obrigação.
Enviar um comentário