"Não há mais nada assim. E é provável ser necessário ter chegado a uma certa altura da vida – a idade do tal vilão, para lá dos cinquentas, ou um bocadinho menos -- , para sopesar e decantar da palavra todo o sortilégio e toda a amargura. A altura em que afinal se percebe, por exemplo, por que raio choram certas pessoas nos casamentos dos outros. A altura em que aquela jura eterna, de “para o bem e para o mal, na alegria e na doença” e mais não sei o quê, deixa de soar oca e irrealista, até um pouco ridícula, e passa a ser apenas comovente na sua impossível certeza.
A graça disto é que o amor, a ideia do amor, é apenas uma espécie de supremo símbolo da vida humana. Estamos condenados, por incapacidade de funcionar de outro modo, a viver como se aquilo que sabemos ser impossível fosse a coisa mais certa que há. A pensar e planear e passar o tempo como se o tempo não nos faltasse, a crer que tudo vai correr bem como se não fosse óbvio que grande parte das coisas só pode, mais tarde ou mais cedo, correr mal.
(...)Que aquilo em que queremos acreditar, em que precisamos de acreditar, é verdade. Que o amor, para além de estar garantido para todos, é – ou pode ser – eterno. De tal modo se quis crer nisso que chegou a estar certificado por lei: as pessoas que juravam amor não podiam desdizer a promessa. Ah, o amor. Ah, a nossa espantosa e deslumbrante capacidade de negação. "
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