Vejo-o

Não estás mas continuo a ver-te. Parei o teu sorriso e as tuas covinhas no tempo, um dia quando distraída olhavas o Sol na varanda, e guardei-o para mim. É por isso que não estás longe - enquanto me lembrar do teu sorriso, pertences-me. Como me pertence tudo o que vivi e hei-de viver.

Continuo a ver-te, como vejo todos os que foram e hão-de ser. Vejo-te o arranhão na perna recente enquanto jogavas futebol, reconheço-te os ténis novos e na moda, sei-te a silhueta cada dia mais perfeita. Oiço-te o riso, já o esperava. Não rias, é verdade. Estás mais bonita, o amor faz dessas coisas. Basta ver como brilham os teus olhos. Nunca consegui definir a cor dos teus olhos, sabes? Dizer que são verdes é reduzir a sua imensidão de vidas e histórias. Mas hoje, agora, é simples: são brilhantes.

Sonho-te o futuro como visão anunciada. Vejo-te os filhos, não te imagino sem um filho a quem devotar esse tanto amor que carregas no peito, a quem aconchegar os lençóis e contar histórias de final feliz, com princesas de longos cabelos e cavaleiros gentis que as socorrem. Vejo-te mãe de família, sorridente e de alma tranquila, que reúne todos à mesa na partilha do pão. Vejo-te mulher-menina que pula e brinca despreocupada e sem medo de cair. Mas também mulher-mulher, bomba que explode, que come e sacia, morde e geme.

Vejo-te a vida longa e feliz. E também a confiança e a certeza que aí conduzirão. A determinação no jeito de andar em frente. O pior já passou, por isso segura a sua mão e caminha. Estás na direcção certa. Vejo-o.

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