Sabonete

Já tinha reparado que havias esquecido o sabonete, redondo e amarelo, mas ainda não tinha experimentado usá-lo, desde então. Queria prolongar infinitamente aquele cheiro ao sabor do teu corpo, como memória palpável e sensitiva que me deixaste sem notar, tem sido essa a razão. Hoje, no duche, ensaboei-me com calma, prazer e precisão, determinada a trazer-te à vida em mim, mesmo sem quereres, como vingança adocicada que não poderias evitar. E, porém, surpreendi-me - cheira ainda tão absurdamente bem, tão inteiramente teu. Sei que ias gostar do cheiro da minha pele agora. Sente.

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