Vai-se andando

Sente-se a viver em stand-by, está à espera e não sabe de quê. Vai vivendo, mas só mesmo isso, aquele vai-se andando que é o mesmo que o vai-se indo e que os velhos sempre respondem. Ela também vai andando, mesmo sem saber para onde ou porquê, embora com a secreta expectativa de que tem de haver mais, tem de. Deverá estar escondido, a aguardar o tempo ideal, aquele em que ela deixe de esperar de tanto cansaço e se deixe assim surpreender. Aparecerá quando ela já não precisar, quando entender que afinal não faz falta, nunca fez.

Mas ela é teimosa e acredita naquelas coisas estranhas, dos esoterismos, superstições e conjunturas cósmicas que se reúnem em conspiração, por isso, quando olha as Luas cheias, quando reza, quando uma pestana lhe cai, ela pede sempre o mesmo desejo: que lhe aconteça algo de extraordinário. Tão simples, não é? Algo de extraordinário. Não o Euromilhões, não o amor de uma vida, não a saúde dos seus ou a vida eterna. Ela pede algo de extraordinário porque está cansada do comum, do stand-by, da normalidade dos dias. Mas talvez por o extraordinário abarcar tantas possibilidades, o universo anda atarefadamente indeciso em lhe proporcionar uma, aquela que a trará para a verdadeira vida. Ela é tão bem-comportada, tão boa menina, que só poderá ser essa a razão, supõe. Até lá continua a andar, vai-se andando.

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