Não sei como tu consegues

Enquanto falava contigo, olhou para o monitor e surpreendida afirmou "não sei como tu consegues".

Já houve dias em que eu também não soube, que tudo me pareceu absurdo e verdadeira anedota, em que não soube quanto de mim era sincero e quanto era piedade de mim, no exagero da derrota e da perda quanto era acção a esperar reacção. E continuei, por vezes impondo a minha presença, se tens olhos que vejas, se existimos que não morramos no tempo.

Houve dias em que repensei tudo e que supus ser capaz de viver outra vida, a tal estupidez sublime, em noites que não eram bastantes para me colmatar a tua ausência, em sons e luas cheias que me gritavam insuportável o teu nome, dá-me uma noite sem passado e sem futuro e vamos reconstruir o mundo nela. E continuei, tapando a boca com força para não me humilhar na tua frente, acreditando na ressurreição do que estava morto.

E houve momentos de fria consciência, olho e tudo me parece outra vida distante, loucura mor de todas as que assim se podem chamar, longe lá longe, e só acredito porque existe o teu sorriso em fotografias dispersas, pic or didn' t happen, a tua letra redonda em livros belos, e sei que tens certa razão quando dizes que é milagre estarmos de acordo em alguma coisa, mas sempre existiu a vontade de te chamar "meu amor" e isso supera qualquer acto e qualquer discussão sobre deus e as nossas culturas ou diferença delas. E continuei, porque me tornaste viva e me deste o gosto da impulsividade, vai aonde te leva o coração.

Quero para mim tudo, com todo o tempo, com todas as palavras e emoções, com tudo o que lá couber. Por isso, porque aprendi que o que fica é tão importante quanto o que era, só lhe posso responder que não sei como não conseguir. Continuo, porque tudo continua, porque é preciso continuar. E consigo.

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