Last Goodbye: ele

Não sei se quero ter essa conversa, sabes? Por vezes é melhor deixar que o tempo se encarregue de apagar as coisas más e só deixar a lembrança doce dos bons momentos. Seria melhor para ambos se fosse assim. Ao menos escussaríamos de revirar um sentimento já de si revirado, magoarmo-nos mais. Se soubesses ao menos a falta que me fazes, se to pudesse dizer sem que isso me diminuísse! É que te vejo, linda como sempre, sempre sempre tão linda, e consigo até esquecer-me das razões que hoje me fazem sentir um miserável por não te ter. Fazes-me tanta falta.

Não deverias ter agido daquele modo, entendes? Tinha tantas coisas ainda para te dizer, mas estragaste tudo. Devias ter esperado até que te dissesse tudo, era isso. Talvez se soubesses tudo não tivesses agido assim. Um dia o meu pai, demasiado alcoolizado para o cedo da noite, colocou-me a mão no ombro e, com a seriedade que qualquer conselho de pai para filho merece, avisou-me: tem cuidado, as mulheres são cruéis. E eu sempre tentei convencer-me do contrário, sabes? Nunca o levei realmente a sério, nem todas as mulheres têm de ser como a mãe, pobre homem vencido pelo amor e agora bebedeira quase todas as noites, a falta que lhe faz uma mulher como a mãe e a mãe que já o esqueceu há tanto tempo. Andamos todos tão sós.

Desculpa, desviei-me do assunto. Sabes como é, tu que me conheces melhor que ninguém saberás ainda melhor, sempre que falo dos meus pais perco-me no discurso e nos pensamentos. Mas era isso mesmo - não acreditei nele. Mas só até te conhecer, afinal. Devias ter apostado mais em mim, devias ter acreditado mais em nós, devias ter tomado uma decisão. Vocês é que têm a mania que são umas vítimas e que todos os homens são insensíveis que só se querem aproveitar. Duvidaste demais. Ninguém te quer mais do que eu, ninguém sabe ler as expressões do teu rosto como eu. Eu sei-te.

Agora não sei o que pensas de mim. Talvez no início achasses que era por causa do orgulho e que me estava a armar em homem, a fazer de propósito para te mostrar o quanto dói sentir a indiferença de alguém. Talvez agora tenhas chegado ao cúmulo de achares que te esqueci e segui em frente. Conheces-me assim tão mal? Como poderia esquecer-te se tudo me lembra de ti? Dói-me tanto ou mais obrigar-me a não te ligar quando o teu nome ecoa na noite do que a dor que, sem notares, me inflingiste. Se tu soubesses, se ao menos pudesses saber. Nunca te esqueci.

Agora sentes a minha falta, tens dificuldade em dormir, ouves canções tristes, insistes numa reconquista lenta a que me custa ceder. Porque custa, custa tanto, não penses que não. E mais tarde ou mais cedo vais chamar-me nomes, vais assoprar com a minha frieza, vais lamentar por mim, sabendo que lamentas por nós. E talvez consigas algum dia entender que não faço por mal, que nunca te quis causar essa dor que agora carregas no peito, nunca quis ser a causa do teu choro. Não digas que a culpa é minha, por favor. Tu é que começaste. No outro dia disseram-me que estavas morta por dentro. Assim, com estas palavras, e nesse dia eu chorei sem que ninguém visse, nem tu. Só te queria feliz.

Por isso não sei como vai ser essa tal conversa ou se é boa ideia. Tu magoaste-me, eu magoei-te, e da mágoa nunca nasce nada de bom. Tão simples. Mas talvez nesse dia não esteja a chover, ou talvez se levante um arco-íris, ou talvez eu encontre um sapato de cristal que te caiba no pé. Talvez eu interrompa o turbilhão de palavras que programaste para mim, pouse a chávena do chá que certamente iremos tomar, te pegue em ambas as mãos e as beije com a delicadeza e saudade que te guardo. Talvez a vida possa recomeçar. Sinto tanto a falta do teu sorriso, sabes?

4 comentários:

Papoila e Orquídea disse...

Inês Pedrosa?

Se não... é exactamente este o sentimento entre eles. Este e mais algumas coisas em anexo.

Beijinho

Sophia disse...

És tão parva. Fizeste-me chorar. Espero que estejas satisfeita.

Parva.

Marisa disse...

@ Papoila e Orquídea:
esta é Marisa, simplesmente. :p
Mas claro que sou influenciada, facilmente (!), e bem sabes como gosto da escrita de Inês Pedrosa. Vou começar a reler o Fazes-me Falta esta semana. :) Bjo, com saudade*

@ Margarida:
:) Deve ser a primeira vez que solto uma gargalhada ao saber que fiz alguém chorar (sorriso embaraçado). Isto não é nada, isto é só um texto. Bjo*

D. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.