Patchwork: how can you mend a broken heart

Prescrutas o seu olhar trémulo, em concordância e apaziguamento, na tentativa de que te leia o que não lhe sabes dizer. Na realidade, não é sequer isso. O que te apetece é colocar-lhe a mão na face e dar-lhe beijos pequeninos e suaves nas pálpebras cansadas. As palavras não interessam, os gestos sim, os gestos tudo.

Notas a verdade da sua dor, a injustiça a quem tudo pode, e temes que nunca vá passar. A surpresa da sua fragilidade que te faz querer estar perto, mais perto. Já te magoaram tanto, minha querida. E gostavas de garantir que nunca mais vai suceder, que tu não vais permitir, mas sabes que não é assim. Queres protegê-la, mimá-la, aninhá-la, poupá-la à frieza do mundo, guardá-la só para ti, não permitir que se esqueça. Queres tomar o seu coração nas mãos, coser cada pedaço e cuidar dele, vigiá-lo como se vigia um bébé, com atenção e amor. Queres cuidar do seu coração.

Ela tem razão: fica um buraco que não se fecha, que não se cura, que não desaparece e não pode fazer nada. Pode convencer-se do tempo, dos outros, do espaço que ainda resta, mas não resolve. A única coisa que pode fazer é colocar um remendo.

Vai colocando remendos para disfarçar aquela ausência, tapa um sentimento, oculta um vazio e só ela sabe que por debaixo do remendo continua igual, irremediavelmente danificado. Um remendo por cada vez que a magoaram. E persiste triste. Uma vontade urgente de cuidar do seu coração.

No final, entenderá a beleza completa do seu coração, com remendos coloridos e de diferentes formatos e muita história para contar. Quando der por si, tem o coração mais belo que alguma vez se viu, aquele que todos hão-de querer. No final, não parecerão remendos, mas um coração totalmente novo. Não deixar de cuidar nunca do seu coração.


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