-te

Às vezes ainda me parece que estou num sonho. Dos bons, claro. Falo sério, não se trata aqui de qualquer aprimoramento idílico ou poético. Reparava nisso hoje uma vez mais, enquanto observava em ternura os teus reflexos na distância do vidro da banheira. Não me canso nunca de te olhar. Um sonho, como se me olhasse de fora da realidade e subitamente me encontrasse desprevenida, um estranho não saber o que medeia entre o que havia e o que há e como foi possível que tivesse sido diferente. É possível existir antes quando o agora é tudo? Houve um momento que mudou a história e na altura eu não o sabia, porque só se sabe depois. Um evento fortuito e inesperado do qual nunca imaginarias as proporções, mesmo que eu te contasse. O instante da sorte. E agora tudo tão normal e tão certo, como extensão natural das coisas, como se não pudesse ser de outra maneira.

Reconheces agora, enfim, aquela gratidão que lias no Saramago ou em Vergílio Ferreira e com que antes troçavas porque te parecia exagero, devoção, humilhação. Nem sempre os afortunados são conscientes da sua fortuna. Não acontece a todos, não acontece a qualquer um. Por isso às vezes ainda me parece sonho e me custa tanto largar o teu abraço, aspiro o perfume que resta na almofada e procuro-te em cada olhar. Um amor nosso, grato e cheio de graça, um amor como uma bênção.

2 comentários:

Xu disse...

*-te ;)

Marisa disse...

*-te more*