Na vertigem da voz quando enfim se cala

Meu amor,

É tão engraçado chamar-te amor. Tão engraçado traduzir um sentimento numa pessoa, como se dissesse amizade e esse nome fosse suficiente para dizer tudo o que trago e me sobeja, e a mais ninguém servisse o nome amor senão a ti, meu amor. Dar uma voz ao amor e essa voz ser a tua e o seu aspecto ser o teu, o amor inteiro e completo que te assenta em cada curva do corpo, perdes o nome que te deram e és unicamente amor. Já tinhas pensado nisto? Só penso o que não interessa a ninguém, e isso chateia-me e orgulha-me ao mesmo tempo.

Perco-me sempre a pensar em ti, sobretudo a pensar em ti enquanto oiço JP Simões, quando o dia entardeceu e ouve-se ao fundo uma velha canção de paz e amor. Desculpa, nem era disto que te queria falar mas ando p'ra aqui enrolada com aquilo que disseste, num desabafo revoltado que eu não soube acalmar. Disseste que querias praguejar contra deus, e isso é tanto, meu amor, porque tu nunca praguejas. Vence-nos a todos, praguejes ou não. Podes usar os nomes mais feios, aqueles que só dizes no silêncio do quarto, e nem assim. Aperto-te a mão com força e o teu grito será uma ressurreição, acredita. Amor fati.

Há muita coisa no caminho e é sempre preciso tempo, a velha desculpa que resulta sempre, mas o momento virá, tem de vir. Quando se pensa numa coisa recorrentemente está na hora. Ontem saí a pensar nisso e a palavra, aquela que tenho de encontrar, é utilidade. Não sei o propósito mas sei que a vida é aquilo que acontece quando tu estás e isso há-de significar algo.

E já te disse que estou com tantas saudades tuas, ao ponto de o vir derramar à frente de toda a gente? É verdade, meu amor. Tão engraçado chamar-te amor.

5 comentários:

Anónimo disse...

Oh, como eu gosto destes posts. :,)

PP.

Xu disse...

Meu amor* é verdade vence-nos a todos. Persiste a vontade de praguejar contra Deus. O que me dá forças, na realidade, é a essência de ter-te ao meu lado:)
Amo-te*

cegonhagarajau disse...

Ainda não tinha comentado porque não me quis antecipar e estava à espera que a visada o fizesse.
Assim sendo:
- Marisa, como te compreendo! E quando dizes "...mas sei que a vida é aquilo que acontece quando tu estás e isso há-de significar algo"...uau!
É mesmo isso que sinto quando estou com a minha gaivota!
:)
Abraço para vocês

Marisa disse...

:) Obrigada, cegonhagarajau.

Sim, e o resto é um qualquer intervalo, o momento que medeia entre acordar a seu lado e adormecer a seu lado...

Abraço e bom fim-de-semana*

Icarus disse...

Olha, tas a começar e até não está mal....