Reparas que não escrevo tanto
quanto antes, a fonte vai secando e os textos parecem sair agora a custo, cada
bater de tecla a encher-se de cuidados numa sequenciação com pouco sentido, um
escrever sem destino que enoja aqueles que instrumentalizam a palavra, lacaios
que insistem em atestar-lhe um propósito, mas isto não serve para nada. Uma letra
seguida de outra letra nem sempre formam uma palavra e o inteligível deve
conseguir sê-lo dispensando inteligentes, mesmo que isto não seja simplesmente
uma metáfora. Tudo o que é feito com mais esforço do que vontade tende a
desaguar em águas paradas, um cheiro a podridão que se sente no calor do ar. Esta
água não flui.
O tempo vai-nos escapando entre
os dedos, finjo que não vejo ou que não importa, mas sei dizer-te com precisão
quantos são os segundos que faltam até que vás. Escreve quem não vive e sobram-me,
já com pesar, os intervalos da vida em nós a chegarem. Talvez nesses.
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