Naqueles dias luto contra seres invisíveis, negros de noite
e fundos de mar, maiores do que eu, engolir-me-iam com uma facilidade que
assusta. Não os vejo mas sinto-os a farejarem o ar, noto-lhes o bafo quente junto
ao pescoço, um incómodo que aparece e se alonga, que ocuparia tudo o que conseguisse.
Naqueles dias há duas forças que se debatem, pequenos demónios que se tentam devorar sem piedade ou consolo, querem levar-te, sabem da tua preciosidade. Nesses dias, forma-se um medo pequenino em mim. Vais te afundando naquele poço imenso e nasce-me o medo da sua força ser demasiada para a minha e não te conseguir segurar a mão, o medo que te abandones à sua insistência, por cansaço ou fraqueza, um medo real de que te levem e que eu não te consiga nunca mais trazer de volta para mim, daqueles medos que paralisam e congelam. Nesses dias, armo-me com o que de melhor tenho, vou além do que sei de mim, aguento e aparo todos os golpes para te puxar com força para o lado mais feliz da vida, esforço-me para te convencer dessa possibilidade.
Nesses dias há, sim, aquele medo mas a mesma determinação em te renovar o coração de destinos e o povoar de vida. Pode haver medo, aqueles dias podem ainda ser mais do que os que consegues aguentar, seguramente mais do que mereces, mas não desisto, persisto, não te largo nunca a mão. Fica deste lado da vida, do meu lado.
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