Não escrever é já escrever. Há outros sítios, histórias que não se fazem aqui. Não escrever é também ter medo do que se possa escrever, não saber até onde podem ir as palavras, o som seco que fazem quando embatem com violência contra aquele muro. Não aguento mais as palavras, tornaram-se insuportáveis, aparecem como gritos no escuro. Assustam. São umas inúteis, bem tens visto. Quis dar-te as palavras todas e esgotaram-se. Hoje são um vazio de deserto. Palavras suicidas, calam e explodem no ar, são desgostosas do seu sentido. As que sobram são ainda todas para ti, uma ou outra escapam-se e fazem-se crescidas em liberdade, saboreiam como afortunadas o ar que lhes enche as sílabas. Sei que voltarão. Afeiçoaram-se a mim e, apesar de tudo, sempre as tratei bem. Mas agora escrevo não escrevendo, não consigo de outro modo. Amote sem palavras. Amote com o que não se esgota. Amote com o amor.
(é Outono e vou chamar-te meu amor.)
Sem comentários:
Enviar um comentário