Os restos do resto dos dias

Penso em ti, enquanto vejo a lua. Pergunto-me se a vês, cheia e alta, tão bela, como eu, aí onde estás. É só um ponto no céu e ilumina isto tudo, não é impressionante isso? Uma pessoa pode deslumbrar-se para a vida só de olhar para a lua e aí descobrir todos os motivos que lhe faltam, acredito. Está um frio pequenino, quase bom de sentir e que nos dá a certeza de que é um novo tempo, outra estação, o ciclo sempre a repetir-se, tu também. Um frio sem idade, porque chega esta altura em que já não tens a certeza de serem 27, 28 ou 29, vai importando cada vez menos. Não muito longe daqui alguém está a tocar saxofone. Alguém a tocar saxofone à lua, imagina, e pergunto-me se aí onde estás o consegues ouvir também. O som atravessa o trânsito, ouve-se melhor quando os carros param no semáforo. É preciso ouvir.

Penso em ti e o quanto me apetece a tua boca. Foi sempre a boca, tu sabes. Neste dia de lua e de saxofones, dava tudo para te beijar a boca agora com um lentidão devassa. Pergunto-me se sentes a minha vontade aí onde estás. Penso em ti com muita força e sinto a tua mão na minha bochecha, como gostas de fazer. É uma sensação que as palavras não abarcam, uma paz e uma segurança que só a tua mão na minha bochecha é capaz de trazer, por isso não vou falar mais disso. Sinto-a. No resto do resto dos dias, tu és o princípio. No que resta dos dias, tu és todos.

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