Houve um tempo em que nos quisemos saber todas, por fora e
por dentro e com urgência. Nesse tempo todos os dias eram infinitos e as
palavras seriam sempre insuficientes. Hoje os dias são demorados e todas as
palavras parecem excessos à deriva. Nada disto é novo e tudo isto é novo,
contradições de tudo o que é puro e por isso vivo e por isso mutável.
Diferente, sim, diferente. És intransponível, my beautiful mess.
Um dia houve em
que eras pessoa e a tua pele, a mais macia, era o conforto de todas as horas. É
ainda a essa mulher que amo. Poderá ser difícil fazê-la rir com vontade mas
quando ri solta uma gargalhada cheia, alta, livre, que ocupa o céu todo. Os
seus olhos poderão não ter o mesmo brilho mas persistem límpidos porque lhes
está na essência serem límpidos. Ainda terá aquele berlinde que lhe dei? Hoje
sei que atravessou toda a minha infância, brincadeiras e arrumações, só para
que pudesse chegar o dia em que eu lho desse e descobrir que não chegava a ser
tão límpido quanto os seus olhos. É ainda a mulher dos olhos límpidos que amo.
Sim, é ela.
Vejo-a ainda aí, por detrás do que se cala e se faz instante. É
ainda essa mulher que puxo para o meu peito quando a noite se aquieta. É ainda
essa mulher que embalo como a um bebé, os mesmos que lhe enchem as páginas de
ternura e futuro. Se puderes sentir, sente.
Haverá um tempo para falar e um tempo para entender. Este é
o tempo do silêncio. Este é ainda o nosso tempo.
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