Talvez nós próprios fôssemos outra coisa que não aquilo que nos habituáramos a pensar ser.

Talvez fôssemos ingénuos mas importávamo-nos pouco. Acreditávamos como uma fé que a nossa vida eram as nossas escolhas. Sobretudo, acreditávamos na vontade e na responsabilidade das nossas escolhas e por isso não nos furtávamos às decisões, que tanto eram peso como liberdade, das quais tanto nos podíamos orgulhar como arrepender. Estas eram as nossas e daríamos a cara por elas. Tínhamos a liberdade de escolher o que fazer com a nossa vida e isso era tudo o que podíamos querer. Levávamos o rumo do nosso destino nas mãos e não era por inércia ou reacção que seguíamos o que a vida nos colocava diante. Éramos nós quem levava o mundo à frente porque nós éramos com convicção o desejo de ser mais. Não esperávamos que a vida nos acontecesse mas fazíamos a vida acontecer. Mas não tínhamos pressa porque todos os dias eram nossos e o tempo, parecendo absoluto na cadência previsível das horas, era em nós um mistério relativo, consumível e indomável. Não éramos escravos da nossa condição, das circunstâncias, do nosso lugar nem do nosso tempo, porque podíamos reinventar tudo de todas as maneiras, acreditávamos ainda tudo nisso. E, mesmo quando o acaso fugia para becos sem saída e o mar nos tentava engolir na sua tragédia de ser sítio longe, não temíamos. Por experiência ou porque alguma vez alguém nos dissera e nunca mais esquecemos, sabíamos que existiam tantos caminhos e que a todos eles podíamos sonhar. Acordarmos cheios de sol de dar ou com o peso de nuvens todas prontas para a tragédia era, mesmo nesses momentos, uma escolha que haveríamos de tomar. Porque podíamos. Porque acreditávamos. Porque talvez até fôssemos ingénuos mas não deixaríamos de acreditar nisso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei. z*

Marisa disse...

Ainda bem que foi tão bom para ti quanto para mim (obrigada).