Alentejo, tempo para ser feliz.

Quando acordei hoje de manhã já era outra vida e tudo era mais uma vez mentira ou sonho, quantas vezes a mesma coisa. Este céu não é aquele de sol, estas pessoas falam outro idioma, os carros andam ao contrário. Deixei a bicicleta no molhe leste e as corridas de carros na sala, a comida da minha mãe na cozinha, é outra a minha casa-museu. Há um rio que não é mar, há risos que não são os delas, ventos que aqui sopram diferente. Foi a pensar nisto que troquei a geografia toda e disse hoje "bom dia" ao porteiro que, naturalmente, não me entendeu e ficou a olhar para mim. Ainda assim sorriu e ainda assim sei que as minhas saudades são tão inconstantes como ela quando liga inconstantemente para a operadora.

Cada viagem é um estalar de dedos como magia, agora estou, agora não estou, agora sou esta, agora sou outra, e tornei-me tão boa nisto que consigo até ser várias num só sítio. Não é diferentes momentos da vida, são várias vidas, várias pessoas. Multiplico-me, divido-me, estranhas contas as de quem sempre se deu mal com os números, e deixo pedaços do meu corpo por aí a quem procura casa, um pé aqui, uma mão ali, a cabeça acolá. Contigo, que és minha terra e meu destino, tenho a certeza de ter deixado o coração, a ilusão de saber-me inteira.

(o título pode enganar: tenho pouca relação com o alentejo. todos os meus caminhos são de levar a outro sítio)

Sem comentários: