Eras tu a falar p'ra esconder a saudade, e eu a esconder-me do que não se dizia.

Não era a mesma coisa porque nunca poderia ser a mesma coisa, isso é por demais evidente. Noutros tempos, era algo tão imenso que não nos cabia nas mãos, algo que nos consumia e não sabíamos o que fazer com aquilo. Agora é algo que se consome e que se usa com parcimónia, conforme a vontade e a disponibilidade. Dir-se-ia que amadureceu por necessidade ou simples passagem do tempo, e resultou nisto, sem exageros, pressas, promessas. Depois, como na música, seria eu a convencer-te de que gostas de mim e tu convencida de que não é bem assim.

Depois eu esforçar-me-ia para ignorar o que sei e o que não quero saber. Confundir, enganar, mentir. E podemos até fingir que isto não nos respeita, e que são lirismos cheios de atrevimento que encontrámos num texto qualquer, se preferires. Podemos dissecar toda a estrutura e os diversos significados até concordarmos que isto não passa de uma tentativa corriqueira de dizer qualquer coisa indizível, que dizes? Podemos usar sotaques diferentes, personagens novas e encantadas e nada disto nos pertencer. Não se diga mais nada se pudermos sentir tudo, saber ver o que é de ver e provar o que é de provar. Anda comigo brincar à vida porque é também o meu nome na boca da noite e não preciso de nós, só de laços. E peco só mais uma vez para ter os teus olhos sobre os meus. Todo o fogo que vem do pecado, pelos teus olhos límpidos sobre os meus de novo.

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