Maux et mots: Santa Bárbara de Nexe

É preciso falar por falar.
Nunca fales para dizeres qualquer coisa.
Evita a sinceridade,  foge dela, ninguém te escutaria.
As palavras, as palavras verdadeiras são mudas.
Escreve com vento, escreve, escreve depressa.
Escreve de dentro.
Escreve de olhos fechados.
As paisagens estão em nós.
Não vou descrever os mares e as terras, não, que fechem o livro, que vão eles ver...
A escrita fica no exterior.
A escrita não pode encerrar-se numa página. 
És tão louca como as tuas palavras, excitas-te, uivas, arranhas o papel.
Encerras palavras  numa folha de papel, fazes o que fazem os atrasados que escondem nos bolsos papéis rasgados, fósforos queimados, uma mosca morta, tudo o que encontram, segredos, a visão deles, um mundo tranquilizante.
 
Emma Santos, O Teatro

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