And here’s to you, Mrs. Robinson: pratica o miau.

Já quis que fosses diferente, que fosses mais normal, mais como as outras. Quis que me pusesses de castigo e me proibisses de fumar, que fosses morena, baixa, gorda. Quis que deixasses de usar os saltos altos e as saias curtas, os decotes provocadores, que bebesses e fumasses menos que o pai ou, pelo menos, que bebesses talvez bebidas de mulheres, licor beirão e vinho do porto. Quis demasiadas vezes que não aparecesses na escola para não ter de ouvir os comentários nojentos dos meus colegas, que deixasses de usar aquela merda de perfume, que fosses discreta e passiva em vez de vaidosa e frontal, quantas vezes inconveniente. Quis que te esquecesses de ser tão fixe e tão nova ao ponto das minhas amigas gostarem sempre de ti e quererem ser tuas amigas. Quis que fosses uma mãe como as outras, a fazer coisas de mãe, a vestir coisas de mãe, a dizer coisas de mãe.

Depois aconteceu-me crescer e reparar a tempo na injustiça do meu egoísmo e na puerilidade dos meus desejos. Sei hoje que não te trocaria por ninguém e que a nossa diferença é essencial a quem sou e como sou com os outros. Acredito que entendo-te agora melhor, envaideço-me agora eu de ti. Na vida que nos leva, é o teu sangue frágil que corre no meu pulso a fazer-se gente e sou eu orgulhosa do que porto de ti, nome e resiliência. Não envelheces pelo simples motivo de eu ter decidido um dia que já era altura de parar com essa ideia ridícula de continuares a crescer. Todas as minhas cadernetas escolares poderão facilmente comprovar que tens, ano após ano após ano, somente vinte e oito anos. E nunca estiveste tão serena e tão bonita, minha mãe.