A noção de perfeição, em política, é conceptual e moralmente aberrante.

A primeira memória que carrego da política é a visão elementar do meu pai que me apresentou a distinção entre a esquerda e a direita dizendo que a esquerda era a favor dos trabalhadores e a direita era a favor dos patrões. Bem ciente da minha posição na estrutura familiar e de um par de ambições ingénuas que ainda hoje persistem, soube desde então de que lado queria estar, mesmo sem saber daí o real significado. Depois há, é claro, a influência de Francisco Sá Carneiro na minha mãe e a influência da minha mãe em mim. Já se sabe que em tenra idade as crianças são facilmente influenciáveis. O facto do único comício a que fui na vida ter sido o de Fernando Nogueira e de, durante esse tempo, guardar com vaidade a bandeira do PSD no fundo da arca, pronta a acenar na varanda para celebrar as vitórias, poderia ser mais um facto importante para contar a história. Mais tarde, quase anedoticamente, se não militei na JSD foi só porque cheguei lá e a porta estava fechada, e talvez a minha convicção não fosse então suficiente forte para insistir.

Não é assim de estranhar que ainda hoje, encarando a política como matéria fluída, identifique-me mais próxima da corrente de direita do que de outras e disso não faço alarido ou vergonha. Todavia, não é raro encontrar quem julgue que ser de direita é acusação e apelidar alguém de ser de direita, insulto. De resto, são quase sempre as mesmas pessoas que acreditam que ser de direita é sinónimo de ser também rico e, já se sabe que todos os ricos só existem porque exploram um bando de pobres, naturalmente, e pouco ou nada de sorte e trabalho. Ser de direita é, para muitos, ser retrógrado de ideias, fascista, salazarista, economicista e, para rimar, egoísta. Em suma, os maus.

Os bons, porém, precisam de reivindicar um outro mundo porque neste, como ela diz, a sorte dá muito trabalho e parece difícil de aceitar que quando se é bom, é-se bom e isso basta, aqui ou na China. Partimos todos do mesmo ponto de partida e, se alguém leva uma vantagem natural, nem isso serve de verdadeiro impedimento para que outro menos capacitado à partida o ultrapasse na tômbola do mundo, que faz e desfaz impérios à velocidade a que a Alemanha marca golos. As oportunidades, sendo difíceis, existem e podemos fazer ser tudo, haja competência, vontade e saúde, e valorize-se a meritocracia em vez da mediania, nisto acredito.

Também a propósito disto, acredito que as expropriações de terras pós-25 de Abril foi das maiores filhas da putice que este País viu mas também é verdade que eu não percebo nada disto e que escrevo de bons e de maus sabendo que não há ninguém exclusivamente bom ou exclusivamente mau.

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