Some mistakes are better the second time.

É nestes momentos que se pede que sejamos adultos, que façamos o que está à altura da situação, sem melodramas e com a cabeça fria, porque as emoções atrapalham, distilam, ofuscam a brevidade dos dias, produzem textos longos e exagerados. Aqui também faz frio mas o frio é diferente. O espaço em volta confunde-se com o espaço por dentro. O futuro haverá de fazer-te falta, é essa a saudade que te molda já hoje, algo por que esperar. O que se delimita, o que se reserva e o que se exclui são pormenores que fragilizam mas não quebram. Todavia, não há nada mais triste do que perder a vergonha de ser-se miserável em público. As pessoas falam da vergonha como se fosse algo a evitar mas a vergonha é precisa, até fundamental. Não te livres disso. Não te distraias. Não há vítimas nem algozes, imunes nem impunes. Fomos só nós e, pesem embora as impressões mais imediatas, esta é uma história feliz.

A vida é o mais estranho dos equilíbrios, o mais belo e, ao mesmo tempo, o mais irónico. Logo agora que havia um lugar para sermos comuns e que os dias são maiores. O destino sempre foi determinado mas eu haveria de poupar-nos e encontrar as razões suficientes para fazer de qualquer altura a altura errada (sempre que escrever de amor, deves acreditar em mim). Calhou-nos ser esta. 

Melhoramos os nossos erros enquanto fazemos troça do tempo porque reconhecemos cedo que o passado é uma pedra inamovível. Nenhum sentimento se repete ou se anula, nenhum gesto se esgota porque a vida é irónica mas é imensa. Mesmo que fosse já daqui a cinco horas então. Ainda seríamos nós. Coloca-me a mão sobre o peito e descobre tudo o que alguma vez me importou. Conheces-me. Conheço-te. Antes como depois, perdura o que é puro. Aquilo que o tempo não pode corroer, que não o esqueçamos.

Há quem acredite que a vida é como uma sucessão de marés, ondas que vão e vêm, o encanto seguido do desencanto seguido do encanto, o riso e a lágrima preparados e à espera de vez. Há quem diga que somos temporadas de maré cheia e maré vazia. Deita-te do meu lado e agarra-me ainda a mão como quem se agarra a uma memória ou a uma esperança pequenina. Haveremos de escusar-nos sempre às despedidas. Estaremos na crista da onda a aguardar a próxima maré. Ela virá por nós.

1 comentário:

Filipa disse...

Avida é feita de marés, mas mesmo vazias ou cheias nunca são iguais. A vida não é assim tão linear.

beijo