Relativamente frágil, assustadoramente comum, provavelmente partilhado, no cúmulo, simplesmente banal.

“Um excesso de passado pesado” ou “um excesso de peso do passado”. Queria lembrar-se dos termos técnicos para os repetir ao pai mas já não sabia bem quais as palavras exactas. “Um exagero de passado pesado”? Tinha ouvido um especialista referir-se assim ao conceito de depressão e aquilo fez-lhe tanto sentido que entristecia-se por não se recordar agora com exactidão embora estivesse segura de que fosse algo assim ou, pelo menos, muito parecido. Explicava, na serena convicção dos seus cinquenta e poucos anos, esta anunciação ao pai que seguia viagem sentado ao seu lado, um senhor discreto que pouco falava embora se pudesse perceber que prestava atenção àquelas palavras. Repetia-lhe aquele ensinamento, asseverando que não, as depressões não aconteciam só às pessoas fracas, pouco tinha a ver com a fraqueza emocional duma pessoa porque poderia acontecer a qualquer um.

Mais tarde, haveria de dizer que temos de afastar-nos das pessoas tóxicas à nossa volta, que são elas quem contaminam o espírito, ou ainda que era este o princípio do fim do mundo, filhos à pancada aos pais, pais a matarem os filhos. Quando o telemóvel tocou, fica-se a saber que vieram os dois do hospital, o cunhado todo aberto por dentro mas aquilo já estava tudo espalhado, agora nada a fazer senão esperar. Conta ela a alguém, a mesma voz serena, que sentiu uma vontade muito grande de chorar naquele dia e pouco depois o telefone de casa tocou e soube do cunhado. Diz que nenhuma vontade de chorar é despropositada, como assim se comprova agora na barriga aberta do cunhado, pois que o tempo chega sempre para confirmar ou desmentir o que nos apoquenta mesmo que disso só tenhamos ligeira impressão.

E eu, um banco atrás deles, só posso concluir que uma viagem de expresso de 1h30 continua a ser mais útil do que um livro de auto-ajuda ou filosofia e mais barato do que uma ida ao psicólogo. 

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