Falar de coragem (de deixar a família, os amigos, os costumes, o sol, a comida e blablabla) ao falar de emigração é, não somente ridículo, senão também insultuoso para quem de facto usa de coragem. A não ser que tenhamos recuado no tempo e exista um risco real de se morrer de escorbuto num porão duma qualquer barcaça que, contando com meses de viagem, pode ou não chegar ao seu destino ou, como há não tanto tempo assim, que vão passar a fronteira a monte com um saco de roupa às costas, ou tenham sido remetidos para o exílio e sem possibilidade de contacto com o exterior, não vejo onde esteja essa coragem toda que choram por aí.
Emigrar tem tanto de corajoso como tem o pescador que vai ao mar todas as noites: são escolhas com implicações, não sentenças insolúveis. Não nos enganemos então: é preciso mais coragem para ficar e mudar o que está mal do que para fechar os olhos e partir. O estrangeiro há muito que não é um sítio, é uma mentalidade.
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