Cuantas luces dejaste encendidas, yo no se como voy a apagarlas.

Regresso pelo gesto mais simples. O que nos traz é sempre um despertar, uma exaltação distraída, desprevenida, quase mesmo inoportuna, como quando o peito se enche e a brevidade do respirar subitamente se demora num passado que julgáramos arrumado. Paradoxalmente, nem sempre o passado passa. Não há vestígios, nenhum indício possível de fazer chegar aquela palavra a esta que agora deito à sua sorte. E, porém, foi sempre assim, se virmos bem as coisas. Sempre te coube seres tremor da terra, paradigma, ou revolução. Tu, sobressalto da vida. Às vezes leio essas coisas belas, pó das estrelas que nos toca, e tenho uma certeza fulgurante de que a poesia nasceu para que se pudesse falar de ti.

Nada disto é novo e tudo me serve ainda para o fascínio, imagina. É impressionante o que se guarda nas algibeiras do tempo. O que de nós sobrou, serve-nos ainda para as perplexidades do quotidiano ou, no meu caso, para preencher folhas vazias, tão perto das noites mais vazias. É inquietante o que se consegue multiplicar duma entoação, pão e peixe mil vezes repartidos e mil e tantos saciados. Um pouco como aquela ideia de felicidade que um dia desenhaste no meu rosto, felizes aqueles que conseguem rir sempre da mesma piada. Talvez cada dia não passe de uma versão que esquecemos nalgum sobressalto e que nos caiba sempre colher mais adiante. Aguardemos com serenidade e talvez a resposta chegue a acompanhar-nos lá mais à frente. Um pouco como isto, a alongar-se já só pela falta de prática ou, se formos sinceros, num exercício de ego, esfomeado, que se testa e se adensa em entroncamentos sem fim e sem finalidade, como na música, apenas para poder compensar a ausência e concluir, sempre demasiado tarde, que tudo é acessório. Bastavas tu.

Se o toque tem memória, como dizem, é também verdade que a memória tem sentimentos que a acordam e dominam, a mesma matéria a que compete o sexo ou a fome, instrumentos da mesma vontade. Sei-o por essas coisas simples que me trazem. Agarra-me pelas sílabas, soletra-me o que vai da boca ao princípio do mundo. É então súbito o incêndio. O peito enche-se e a brevidade do respirar demora-se num passado que julgara arrumado. Quase te peço que largues tudo e desates a escrever. É este sempiterno sentimento de que te quero conhecer, mesmo ao fim de anos. Um abalo que vem mais do que não sei do que do que sei, pois é aí que residem os segredos do mundo, na sombra do coração dos homens. Há um encandeamento e um desconhecimento que os incautos poderiam tomar por incompreensão ou mistério mas, não é isso. Não é, ainda, isso. Na ingenuidade do meu deslumbre, é um entendimento que me falta. Entender-te (melhor) o sentido, a leveza. O que em ti é singular e dissonante, de onde te vêm os mares que te rebentam dentro, porventura os mesmos que te embalam o futuro quando começam as épocas de maré cheia.

E, porém, há o mundo, deus, a vida, a justificar-me. Talvez só possamos amar o que não entendemos. Talvez só possamos amar porque não entendemos.

2 comentários:

Este Blogue precisa de um nome disse...

Tenho o browser aberto neste post desde o dia em que o escreveste. Gostava de escrever algo, mas nada posso acrescentar. Um dia hei-de saber escrever como tu :-) Obrigada pela partilha, Marisa. Beijo

Marisa disse...

Obrigada eu. Deixas-me feliz e vaidosa. Um beijo.