Caiu pelas escadas abaixo, diz. Jura a pés juntos que ela caiu pelas escadas. Porém, olha-se e dir-se-ia impossível. Sangue na parede, no tecto, nos degraus, na roupa. Demasiado sangue, poucas escadas. A voz soa ensaiada, um histerismo premeditado, diz ela que nada sabe das urgências de vida e morte. A verdade, é que não existe uma arma do crime, não existem provas, não existe sequer motivo conhecido. Ainda assim, culpado, doze vezes culpado.
As pessoas não precisam de provas. As pessoas não querem saber de provas para nada, até os amantes, os encornados, sabem disso. As pessoas só precisam de histórias.
A presunção de inocência é um princípio bonito cujo fim é (quase) sempre deturpado. Quando te sentas no banco dos réus, és já um culpado. Mesmo que o ónus esteja na outra parte, és já aquele que tem de esforçar-se por afastar a culpa, medir as palavras, atentar aos gestos, baixar o olhar, sobretudo, não olhar aqueles que te julgam. O nível razoável de dúvida pouco tem de razoável, pende para o lado que melhor acalme as consciências, serve para lavar as mãos e encarecer discursos, não para validar inocentes. Na dúvida, escolheram-se sem dúvida porque até o inexplicável carece de explicação. Desde então, os seus olhos são mar. E se ele for, realmente, inocente?
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